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ENTREVISTA

OLÍMPIO

RFD Nº20

OLÍMPIO

 

Fisioterapeuta

OLÍMPIO PEREIRA – Fisioterapeuta – Fisio Roma

REVISTA DE FISIOTERAPIA DESPORTIVA – Em primeiro lugar quer agradecer a sua disponibilidade para esta entrevista, pois sabemos que nem sempre é fácil, para pessoas com agendas ocupadas.

RFD – Porquê Fisioterapia? Quando e como é que começou o interesse por esta área das ciências da saúde?

OLÍMPIOEsta área surge pela relação familiar, o meu irmão era Ortopedista, desde miúdo que o acompanhava e, numa fase próxima de tomar a decisão percebi a importância fundamental da Fisioterapia para completar o trabalho dele. Percebi na altura que a relação entre o Fisioterapeuta e o Ortopedista era fundamental para resolver as necessidades dos nossos doentes.

RFD – Já passaram uns anos… E o ciclo de estudos mudou a sua estrutura, conteúdos, etc. Existe algo que sinta que “se perdeu”? E algo que nessa altura não se ensinasse e que agora ache parte importante dos estudos em Fisioterapia?

OLOs níveis do curso de fisioterapia neste momento não têm nada a ver com os de 1980. Atualmente é muito superior, embora, quanto a mim, ainda tenha muito para evoluir.

RFD – E sendo a Fisio Roma uma clínica com bastantes fisioterapeutas, que diferenças vê entre o fisioterapeuta de hoje em dia e o de há uns anos?

OLDiferença de atitude no que diz respeito aos seus objetivos como profissionais. Penso que é um problema geracional; vestir a camisola não é o foco, e esse, quanto a mim, é o lado negativo. O lado positivo será a especialização, que será garantidamente uma mais-valia.

OLNeste momento, existem fisioterapeutas que se querem diferenciar dedicando-se exclusivamente a uma área, e eu concordo totalmente com esta vertente. Na Fisio Roma, existem fisioterapeutas que se dedicam à área da coluna, do ombro, do joelho, do tornozelo, entre outras, há mais de 20 anos.

RFD – Por falar na Fisio Roma… pode contar-nos um pouco a história da clínica? Como “nasceu” e qual o seu percurso até aos dias de hoje?

OLA Fisio Roma nasceu há 29 anos e é o resultado de um percurso familiar em que se juntaram dois fisioterapeutas: eu e a minha mulher, Fta Maria Casimira Pereira, essa sim a grande impulsionadora da mudança do pequeno gabinete para a grande unidade de fisioterapia.

RFD – Atualmente existem bastantes “gabinetes de fisioterapia”, mas uma clínica com a dimensão da Fisio Roma obriga a uma capacidade maior de empreendedorismo e gestão para ser bem-sucedida. Como foi conciliar o trabalho enquanto fisioterapeuta com o trabalho de empreendedorismo e gestão? Procurou alguma formação ou ajuda nessas áreas?

OLFoi simples, contratei uma gestora. Não acredito em fisioterapeutas gestores ou, pelo menos, eu não sinto competência para essa tarefa.

RFD – Sendo que a RFD é uma publicação mais focada na área do desporto e musculoesquelética, gostávamos de saber se, no seu longo percurso como fisioterapeuta, já esteve inserido em algum clube ou desporto.

OLInserido oficialmente não, mas colaborei com o futebol profissional do Sporting e, na altura, com as modalidades amadoras nos anos oitenta, além do basquetebol do Benfica durante cinco anos. A Fisio Roma tem colaborado com vários desportos em várias fases, com muito trabalho na área da prevenção.

RFD – No entanto, sentimos que cada vez mais o trabalho com desportistas acontece fora dos clubes e federações — acontece nas clínicas. Sente este aumento na procura de ajuda externa, por parte dos desportistas?

OLEsses casos sempre existiram e vão continuar a acontecer, estando a maioria das vezes relacionados com relações interpessoais. No entanto, há uns anos atrás, com os departamentos dos clubes sem fisioterapeutas, era muito mais frequente.

RFD – Relativamente a esse assunto, algum caso interessante ou caricato que se lembre e possa partilhar (ainda que sem revelar identidades)?

OLOs casos que não deviam ter acontecido estão sempre relacionados com o erro humano, como não avaliar uma lesão. No desporto, as mais frequentes são as lesões musculares, e poderia deixar aqui muitos exemplos.

RFD – Nos últimos anos também se tem verificado um aumento da prática de exercício por parte do cidadão comum — os chamados “atletas de fim de semana”. É um fenómeno positivo no combate ao sedentarismo, mas a ausência de conhecimento de treino por vezes traz algumas lesões. Nota um aumento de “atletas de fim de semana” na Fisio Roma? E quais os seus conselhos para quem quer começar a praticar atividade física?

OLO aumento é significativo; corrida e padel são os maiores contribuintes. O meu conselho é, antes de começar a fazer um desporto, consultar um médico da área, um cardiologista, um fisioterapeuta, um nutricionista e, depois, seguir as suas orientações. Comecem sempre com o treino, que é fundamental, e aí o treinador tem um papel preponderante.

RFD – Tendo em conta este aumento generalizado de lesões relacionadas com o desporto – seja de “atletas de fim-de-semana” a profissionais cujos calendários competitivos estão cada vez mais densos – como vê o papel do fisioterapeuta nesta área mais ligada ao desporto?

OLO papel do fisioterapeuta nesta área estará sempre ligado à prevenção, numa equipa técnica gerir a relação entre os ciclos de treino e as características de cada atleta, os seus pontos fortes e os fracos, sempre interligado com a especificidade do desporto em questão.

RFD – Tem alguns conselhos para dar para os recém-formados com interesse nesta área?

OLO conselho maior será sempre que tem que aprofundar os seus conhecimentos e, mais importante ainda, saber trabalhar em equipa.

RFD – Por fim, gostávamos que deixasse uma reflexão em relação ao futuro da nossa profissão (não só na área do desporto, mas no geral). Qual o caminho que gostava que a Fisioterapia seguisse? Que mudanças gostava de ver acontecer à nossa profissão ou prática profissional? E, em contrapartida, o que não gostaria de ver acontecer à Fisioterapia, no futuro?

OLVejo um fisioterapeuta como um profissional de primeiro contacto, que saiba referenciar e que seja referenciado por todos os profissionais de saúde. A autonomia conquista-se com competência e, para mim, é fundamental que se criem critérios objetivos para definir quem tem capacidade para o fazer. O que não gostaria está relacionado com aqueles profissionais que executam técnicas que não pertencem ao conjunto de saberes da fisioterapia.

RFD – Voltamos a agradecer a sua disponibilidade e participação na nossa publicação.