ENTREVISTA
Ft. Adérito Seixas
RFD Nº02
Adérito Seixas
Fisioterapeuta
Presidente do Conselho Diretivo Nacional
Associação Portuguesa de Fisioterapeutas
APFISIO
REVISTA DE FISIOTERAPIA DESPORTIVA – Tem sido sem dúvida um grande dinamizador da APFISIO. Já está há muitos anos envolvido nesta Associação… Como começou esse percurso?
ADÉRITO SEIXAS – Sou associado há muitos anos, é verdade, mas o meu envolvimento na direção da APFISIO é recente. Embora fosse algo que já me tinha passado pela cabeça, sem nunca se concretizar, foi apenas em 2019 que surgiu o convite para fazer parte do Conselho Diretivo Nacional da Associação para o triénio 2019-2021.
Eu sempre acompanhei as atividades da Associação, sempre estive atento ao site, sempre li a revista Fisio, sempre me mantive atento aos emails da Associação e sentia-me representado. Esse sentimento ainda cresceu mais com o mandato anterior, pois fizeram um trabalho incrível, mas sempre surgiam colegas a referir que não se sentiam representados pela APFISIO.
Uma noite, numa discussão criada por um post nas redes sociais, feito por um colega que respeito muito, debatia-se se a Fisioterapia era uma profissão sem voz e se os fisioterapeutas se sentiam representados pela Associação. Não concordando com esta visão, lembro-me perfeitamente de pensar: “Tenho de fazer mais pela Associação e pela Profissão”. Naquela noite eu senti-me cheio de vontade de meter mãos à obra. Depois surgiu a oportunidade e desde essa altura tenho feito isso mesmo, tenho dado o meu melhor para ajudar a Profissão e a Associação.
RFD – O que o seduz mais nesta intensa atividade diretiva, tanto mais que lhe ocupa certamente muito do seu tempo pessoal?
AS – O que me motiva é saber que estou a ajudar e a defender a Fisioterapia, é saber que estou a trabalhar pelo coletivo. Na minha perspetiva, o associativismo/coletivismo é essencial para unir os fisioterapeutas com o objetivo de superar as dificuldades que se colocam à classe, beneficiando-a a vários níveis, como o profissional, o social, o político e o científico. Poder contribuir para unir os esforços individuais e trabalhar em conjunto, procurando atingir objetivos comuns, estimulando valores como a Participação, a Solidariedade, a União e a Cooperação no processo é, para mim, muito gratificante. Só assim conseguiremos ter maior expressão social e política, e poder dar o meu contributo é algo fantástico.
Infelizmente, o mundo foi assolado pela pandemia da COVID-19 e a minha atividade enquanto Presidente da APFISIO centrou-se muito na defesa e promoção da Fisioterapia durante a pandemia, mas não apenas neste contexto. O trabalho é muito e é importante mencionar o seu caráter voluntário, mas aquilo que temos conseguido vale bem a pena. É fundamental que os fisioterapeutas reconheçam o trabalho da APFISIO e se associem, a Associação precisa de todos os fisioterapeutas.
RFD – Como fisioterapeuta, o que o encanta mais na sua profissão?
AS – O que mais me encanta nesta profissão é, sem dúvida, o facto da evolução da carreira do fisioterapeuta poder acontecer em percursos muito distintos: o clínico, o educacional, o da investigação e o da liderança e gestão. Como não são mutuamente exclusivos, os fisioterapeutas podem optar por mais do que um percurso ou até alternar entre eles durante as suas carreiras profissionais e isso, para mim, é algo fantástico. Poder exercer Fisioterapia em todos estes percursos, como no meu caso, é um privilégio. E claro, ajudar as pessoas, tenham elas condições de saúde ou sejam elas estudantes, a gerir a sua saúde ou a gerir a sua aprendizagem, é muito estimulante e gratificante. São eles os principais responsáveis pela sua saúde ou pela sua aprendizagem, eu sou um facilitador e sinto-me muito bem nesse papel.
RFD – … e o que o desilude mais e gostaria de mudar?
AS – Há várias questões que merecem a atenção da profissão e que, via trabalho da APFISIO, temos tentado desenvolver e modificar. A primeira é a imagem social do fisioterapeuta, que está longe de ser o que a profissão merece. A forma como a população em geral, as outras profissões da área da saúde e a classe política olham para a profissão não é compatível com o seu grau de desenvolvimento e maturidade. A segunda prende-se com o caminho que ainda falta percorrer até a Fisioterapia ser verdadeiramente uma profissão cuja prática é informada pela evidência. Embora reconheça que os contextos de trabalho de muitos colegas sejam uma barreira muito séria, ainda é preciso muito trabalho no âmbito da literacia científica, mas chegaremos lá. Por fim, a questão da autonomia profissional pois, apesar de claramente existir evolução neste domínio, a consagração do fisioterapeuta como profissional de primeiro contacto ainda está em desenvolvimento no nosso país.
RFD – A atividade profissional do fisioterapeuta é cada vez mais independente, por mérito próprio e certamente por outras razões. Quais?
AS – Tenho que realçar a qualidade do ensino no nosso país. A formação de fisioterapeutas em Portugal encontra-se atualmente alinhada com os mais elevados padrões de qualidade a nível mundial e isso é determinante nessa evolução. A Associação Portuguesa de Fisioterapeutas tem trabalhado em proximidade com as Instituições de Ensino Superior que formam fisioterapeutas, dando todo o apoio possível de forma a tentar assegurar que a formação dos profissionais é concordante com o perfil de competências que se exige aos fisioterapeutas na atualidade. Aproveito para relembrar que a APFISIO publicou em setembro de 2020 a versão revista do Perfil de Competências do Fisioterapeuta, perfeitamente ajustado à prática de Fisioterapia de forma completamente autónoma, mas reconhecendo a importância do trabalho interdisciplinar. Para além do desenvolvimento do processo de formação, também o estatuto profissional e a natural evolução no plano legislativo – que ainda não estão como desejamos – têm permitido que os fisioterapeutas sejam cada vez mais independentes.
RFD – Como aprecia o tema da Ordem dos Fisioterapeutas?
AS – A publicação da Lei n.º 122/2019, que cria a Ordem dos Fisioterapeutas e aprova o seu Estatuto, foi mais um marco fundamental para a continuidade do desenvolvimento da nossa jovem profissão e o início de uma nova aventura para a Fisioterapia. Quando estiver a funcionar em pleno será fundamental no processo de liderança e união da profissão, protegendo a sua identidade, regulando o seu exercício e batendo-se pela qualidade dos serviços prestados, tendo como objetivo máximo a defesa do cidadão, mas assegurando que será uma mais-valia para a profissão.
Apesar da sua existência ser um sinal claro do reconhecimento político e social da Fisioterapia, ela será fundamental para promover ainda mais esse mesmo reconhecimento. Tenho a certeza absoluta de que os fisioterapeutas saberão aproveitar esta oportunidade de desenvolvimento que a sociedade civil lhes proporcionou. Eu, como todos os fisioterapeutas, certamente farei o que estiver ao meu alcance para que assim seja.
RFD – Qual o papel do fisioterapeuta no desporto? Tem algum conselho aos jovens fisioterapeutas que estão a iniciar o seu caminho nesta área?
AS – O fisioterapeuta, seja em que contexto for, é um profissional de saúde, é esse o seu papel. No desporto não é diferente, e temos de intervir em populações desportivas, por vezes em vários níveis de desempenho (do lazer à alta-competição). A APFISIO, através do seu Grupo de Interesse em Fisioterapia no Desporto, defende que a nossa intervenção tem por objetivo a prevenção de lesões associadas à prática desportiva, a otimização da função e melhoria do desempenho desportivo e a promoção da prática de atividade física de forma segura, sempre tendo por base uma abordagem biopsicossocial informada pela evidência, com o atleta no centro do processo. O seu papel de líder, inovador, educador e facilitador é inegável, tanto a nível micro (resolução de problemas), meso (prestação de serviços) e macro (influência nas alterações de políticas de saúde).
Tendo começado a minha vida profissional precisamente nesta área, o melhor conselho que posso deixar aos jovens fisioterapeutas é que questionem tudo, que procurem constantemente ser melhores do que no dia anterior e que trabalhem muito, com muita responsabilidade. O trabalho nesta área é muito exigente, mas é uma excelente forma de treino das competências clínicas e de relação interpessoal.
RFD – Por último, aproveitamos para agradecer o seu apoio e da APFISIO à Revista de Fisioterapia Desportiva Informa. Qual a sua opinião relativamente a este projeto e qual o papel que acha que pode vir a ter na Fisioterapia no Desporto?
JLR – Estou muito entusiasmado com este projeto e aproveito para dar os parabéns aos seus responsáveis. É um espaço de partilha, de desenvolvimento de ideias, onde podemos mostrar o nosso trabalho e sujeitá-lo à critica, que se deseja construtiva entre pares. Um local para publicação de perspetivas na área da Fisioterapia no Desporto, em português, é muito bem-vindo, poderá contribuir para o desenvolvimento desta área de atuação e espero que a comunidade o saiba aproveitar da melhor forma.
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