ENTREVISTA
Ft. Isabel de Souza Guerra
RFD Nº03

ISABEL DE SOUZA GUERRA
Fisioterapeuta
Presidente da Comissão Instaladora da
Ordem dos Fisioterapeutas
Ex-Presidente da Comissão Pró-Ordem da Associação Portuguesa de Fisioterapeutas (2016-2019)
Ex-Presidente da Associação Portuguesa de
Fisioterapeutas (1996-2016)
REVISTA DE FISIOTERAPIA DESPORTIVA – Tem tido uma carreira dedicada à Fisioterapia e ao fisioterapeuta. Em 2005 ganhou o Prémio Carreira da Associação Portuguesa de Fisioterapeutas. É sem dúvida uma pessoa generosa para a sua classe profissional… Como Presidente da Comissão Instaladora da Ordem, o que a motiva mais?
ISABEL DE SOUZA GUERRA – O que me motiva atualmente é estar a dar corpo ao projeto de criação da Ordem dos Fisioterapeutas que, como se sabe, levou vinte anos a ser concretizado e a minha vontade de levar este grande objetivo até ao fim. É claramente um projeto fundamental para o futuro da fisioterapia, que partiu da enorme capacidade de visão de um grupo de fisioterapeutas, que o previram em 1998, ficando desde logo estabelecido nos estatutos da Associação Portuguesa de Fisioterapeutas.
Muitos jovens não os terão conhecido, mas vale sempre a pena recordar o João Vasconcelos Martins, a Margarida Gouveia e os que desde o início continuam profundamente envolvidos, como o António Fernandes Lopes, sempre indispensável ao longo de todo o processo e a quem somos todos devedores.
Neste percurso, enquanto comissão instaladora, tem sido altamente motivador o ambiente de grande empenhamento, de proatividade e de verdadeiro espírito de equipa entre os seus elementos e consultores, não esquecendo que todos trabalhamos de forma voluntaria. Criámos, também, uma estrutura de apoio de colaboradores muto dinâmicos e empenhados.
RFD – Sente que os fisioterapeutas atingiram a maturidade científica, profissional e social para funcionamento independente sob os regulamentos da Ordem?
IDSG – Atualmente a formação dos fisioterapeutas permite-lhes um exercício diferenciado, mas naturalmente que muito caminho ainda há para fazer ao nível da autonomia profissional, a qual é um dos desígnios que temos de atingir. A questão da criação das especialidades em fisioterapia é outro objetivo que deverá vir a ser concretizado pelos futuros corpos diretivos, embora a comissão instaladora está já a preparar o terreno.
RFD – …, mas tem-se notado algum ruído por parte de outras classes profissionais …
IDSG – Penso que esse ruído foi mais visível durante a fase final do processo de concretização da Ordem. Neste momento o que se pretende é que haja boa colaboração institucional e que estamos certos que irá acontecer.
RFD – A relação profissional com os médicos especialistas em fisiatria será alterada para uma relação de menos dependência, embora o trabalho de equipa continue a ser valorizado?
IDSG – Naturalmente que o trabalho de equipe, não só com esses especialistas, mas com todos os outros médicos e profissionais de saúde, terá que continuar a ser valorizado em áreas onde a multidisciplinaridade é fundamental. Num exercício mais independente, estamos certos de que a autonomia do fisioterapeuta continuará a crescer e a ser mais valorizada.
RFD – E a relação com os médicos ortopedistas? O diálogo e o trabalho em equipa serão ainda mais potenciados?
IDSG – Seguramente e com todos os médicos. O exercício do fisioterapeuta é cada vez mais abrangente. As áreas que antigamente eram desconhecidas têm agora respostas cada vez mais qualificadas e com maior reconhecimento do contributo da fisioterapia pelos especialistas. Claro que há ainda muito trabalho a fazer na visibilidade desses contributos, mas que depende também da responsabilidade de cada profissional.
RFD – Ainda tem, certamente, muito trabalho pela frente. Em que fase está a Instalação da Ordem? O que falta fazer?
IDSG – A maior parte do trabalho de fundo está feito: criação de estruturas e funcionamento, infraestruturas tecnológicas de suporte. Pretendemos basear todo o funcionamento num sistema eminentemente desmaterializado, criando uma plataforma digital para uma efetiva comunicação com os nossos membros. Reunimos numerosas vezes com a tutela, preparámos e apresentámos toda a regulamentação da Ordem. Assinámos um memorando de entendimento com a APFISIO relativa à passagem de testemunho na WCPT (World Confederation for Physical Therapy) e, neste momento, já apresentámos a nossa candidatura internacional. Foi nomeada a comissão técnica de admissões, que avaliará com toda a independência cada inscrição e para validação pela Comissão Instaladora. Existe ainda mais um sem número de atividades indispensáveis ao seu funcionamento. O primeiro objetivo está concretizado com o início das inscrições dos cerca de 14000 fisioterapeutas anteriormente registados na ACSS. Segue-se agora todo o processo eleitoral, com as eleições já marcadas para 15 de novembro.
RFD – Como estão a correr as inscrições na Ordem?
IDSG – Acho que estão a correr muito bem no que respeita aos processos tecnológicos que criámos. Como todos as plataformas terá certamente alguns problemas, de início, que tentaremos minimizar rapidamente, mas estou certa, de que os fisioterapeutas compreenderão. Investimos antecipadamente na divulgação de todos tópicos e documentos necessários ao preenchimento do formulário de inscrição, o que está a ser facilitador. Embora não exista um prazo definido para o período inscrições, é desejável que todos os fisioterapeutas se inscrevam no mais curto espaço de tempo. As entidades oficiais também foram notificadas de que desde o dia 13 de Maio a inscrição na Ordem é condição legal para o exercício da profissão de fisioterapeuta em Portugal e poderão brevemente solicitar esses comprovativos aos profissionais. Por outro lado, a inscrição atempada, permitirá uma ampla participação no processo eleitoral.
RFD – O futuro Conselho Disciplinar será um órgão muito importante. Sente que terá muito trabalho no futuro ou acha que os fisioterapeutas têm sido uma classe profissional e eticamente exemplares?
IDSG – Neste momento não temos dados que nos permitam aferir da existência de situações eticamente reprováveis. É atribuição da Ordem o exercício do poder disciplinar sobre os seus membros e serão desenvolvidas os princípios gerais e toda a tramitação a que deve obedecer o procedimento disciplinar. É desejável que os fisioterapeutas sejam eticamente exemplares e que o futuro conselho disciplinar tenha o mínimo de trabalho possível.
RFD – As questões laborais, progressão na carreira estarão na dependência da Ordem?
IDSG – Não e esta questão é importante, pois continua a haver muitas dúvidas sobre esta matéria na comunidade da fisioterapia. As Ordens estão impedidas por lei de exercer ou de participar em atividades de natureza sindical ou que se relacionem com a regulação das relações económicas ou profissionais dos seus membros.
RFD – Após a instalação da Ordem e eleição dos Órgãos Sociais, quais pensa serem os assuntos mais urgentes, ou que merecem uma maior atenção por parte da Ordem?
IDSG – Alguns dos pontos estão plasmados nos estatutos, como a atribuição dos títulos de especialista, participação na elaboração da legislação no que à fisioterapia diz respeito e há um conjunto de aspetos fundamentais, mas que dependerão dos objetivos estabelecidos pelos corpos sociais que vieram a ser eleitos.
RFD – Quais pensa serem os principais benefícios que surgirão para os fisioterapeutas com a existência da Ordem?
IDSG – Desde logo passarmos a ser uma profissão regulamentada, o que implica regular o acesso e o exercício da profissão e a garantia do exercício profissional de acordo com padrões de competência e que cumpram elevados padrões de ética e conduta profissional. Será também importante a defesa do título profissional e o exercício do poder disciplinar sobre os membros e a existência de mecanismos para resolver o incumprimento das normas de prática estabelecidas. Como já foi mencionado, a regulamentação das especialidades, a criação dos títulos de especialista e de colégios de especialidade serão igualmente benefícios de realce. Penso que é importante o facto de passar a haver um registo sistemático e atualizado de todos os fisioterapeutas qualificados. Dos próprios profissionais espera-se a responsabilidade de manter boas práticas, atingido padrões elevados de desempenho.
RFD – … E para os utentes?
IDSG – O aspeto mais importante será a proteção do público contra o exercício inqualificado ou sem padrões de qualidade.
RFD – Esta Revista nasceu recentemente, a Ordem nascerá brevemente. A fisioterapia está muito dinâmica. Qual a sua opinião sobre esta publicação?
IDSG – Esta publicação é provavelmente mais uma manifestação dessa dinâmica em que se encontra a fisioterapia, com um grande investimento na investigação e partilha da divulgação científica.
RFD – Por último, gostaria de comentar qual a importância que a Ordem pode ter no caso específico da Fisioterapia no Desporto?
IDSG – A fisioterapia no desporto é uma área de grande diferenciação clínica, que tem tido a capacidade de se afirmar dentro das equipes onde atua como uma mais-valia indispensável, com um reconhecimento cada vez maior da comunidade não só desportiva, mas da população em geral, apresentando-se como um exemplo de um modelo de exercício responsável e autónomo.

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