ARTIGO
Quanto Podemos Beneficiar por usar Menos? O Calçado Minimalista e a Reabilitação
RFD Nº04

QUANTO PODEMOS BENEFICIAR POR USAR MENOS?
O CALÇADO MINIMALISTA E A REABILITAÇÃO
JOÃO BABAU LUCIANO
Fisioterapeuta
DUBAI
COMO TUDO COMEÇOU
Os antropologistas sugerem que há 4 milhões de anos os nossos ancestrais hominídeos caminhavam descalços.1 Sem querer entrar demasiado no lado histórico, nós, os humanos, caminhámos e corremos descalços durante eras e a evidência diz-nos que foi apenas há
30000 anos que começámos a usar calçado, minimalista, com o intuito de nos proteger contra danos provenientes do meio ambiente, tal como cortes e queimaduras.2,3 O primeiro sapato com o intuito de moda está datado com pouco mais de 100 anos. Já os primeiros sapatos desportivos com amortecimento foram apresentados apenas em 1970.4
A história mostra-nos que esta evolução súbita aconteceu demasiado rápido para que a biologia humana conseguisse acompanhar, sendo identificada como uma das possíveis causas para o aparecimento de diversas patologias que até então muito raramente surgiam nas consultas, como é o caso da fasciite plantar.5 Esta tem sido uma das razões pela qual os cientistas têm debatido e equacionado a relação entre o tipo de calçado e o aparecimento de lesões. Algumas das muitas características que nos difere dos primatas, umas das mais importantes, é o facto de o pé humano ter um arco longitudinal capaz de criar tanto rigidez, como deformação6, a habilidade de acumular e libertar energia através do sistema elástico fisiológico, os ligamentos e tendões7, e a presença de um hallux aduzido.8
OS NOSSOS PÉS
O pé humano é composto por uma relação complexa de 26 ossos e 33 articulações, permitindo diversas funções essenciais para o dia-a-dia. Enquanto em apoio bipodal o pé providencia uma base de suporte estável, em movimento tem a capacidade de simultaneamente ser estável no contacto ao solo e poderoso na fase de propulsão. Durante a fase intermédia torna-se móvel o suficiente para absorver e atenuar cargas de impacto. A capacidade de variar entre absorver, armazenar e libertar energia através do seu sistema de características elásticas completa uma obra de arte ainda com tanto para compreender.6,9

Figura 1 – Os músculos intrínsecos do pé