ARTIGO
Incidência de Lesões e de Fatores de Risco na Ginástica Rítmica em Portugal
RFD Nº08
INCIDÊNCIA DE LESÕES E DE FATORES DE RISCO NA GINÁSTICA RÍTMICA EM PORTUGAL
Beatriz Tojal · João Casaca Carreiral
Fisioterapeutas – Escola Superior de Saúde da Cruz Vermelha Portuguesa – Lisboa
RESUMO
Objetivo: Identificar a incidência de lesões e possíveis fatores de risco na ginástica rítmica em Portugal para a elaboração posterior de recomendações para planos de tratamento e prevenção. Metodologia: Recolha transversal e retrospetiva de informação através da distribuição 140 inquéritos durante o Campeonato Nacional de Ginástica Rítmica da 1ª Divisão (2018) sobre as lesões sofridas entre outubro de 2017 a abril de 2018. Resultados: Obteve-se taxa de resposta de 79,3% com um total de 111 inquéritos respondidos. A localidade com maior número de ginastas foi a grande Lisboa (50%), a média de idades foi de 13,3 anos, as ginastas pertenciam predominantemente ao escalão de juvenis e tinham em média 7 anos de prática desportiva. Da amostra, 42 atletas (38%) referiram pelo menos uma lesão, a média de idades destas ginastas lesionadas foi de 14,1 anos e média de anos de prática foi de 8,4. A maioria de lesões foi nos membros inferiores (65%), mais especificamente no joelho (21%), sendo a maioria ruturas ligamentares por mecanismo de entorse (21%), salientando-se ainda o uso excessivo (29%). A duração do treino onde ocorreram mais lesões tinha duração superior a 3 horas em 34% dos casos. Os saltos foram os eventos mais envolvidos na génese das lesões (29%). Conclusões: A ginástica rítmica é uma modalidade de risco moderado de lesão.
PALAVRAS-CHAVE / KEYWORDS
Ginástica rítmica, lesão, fatores de risco
Rhythmic gymnastics, injuries, risk factors
ABSTRACT
Aim: To identify the incidence of injuries and possible risk factors in rhythmic gymnastics in Portugal to subsequently make recommendations for treatment and prevention plans. Methods: A transverse and retrospective study through the distribution 140 surveys during the National Championship of Rhythmic Gymnastics of the 1st Division (2018), asking about the injuries suffered between October 2017 and April 2018. Results: A response rate of 79.3% was obtained with a total of 111 questionnaires answered. The city with the largest number of gymnasts was the metropolitan area of Lisbon (50%), the average age was 13.3 years, the gymnasts belonged predominantly to the junior level and the average years of practice corresponded to 7 years. Of a total of 111 participants, 42 (38%) reported at least one injury. The average age of the injured gymnasts was 14.1 years, and the practice length was 8.4 years. Most lesions were in the lower limb (65%), more specifically in the knee joint (21%), the ligament ruptures with sprain mechanism (21%) were more prevalent, emphasizing the excessive use (29%). The training sessions lasted more than 3 hours (34%), and the jumps were more often reported (29%). Conclusions: Rhythmic gymnastics has a modest risk of injury.
INTRODUÇÃO
A Ginástica Rítmica (GR) é um desporto olímpico exclusivamente feminino, que combina o balé, elementos gímnicos e o manejo dos aparelhos (corda, arco, bola, maças, fita) em sincronia com música.1 Desde 1984 que a GR está incluída nos Jogos Olímpicos, juntando-se à ginástica artística masculina e feminina e, posteriormente, à ginástica de trampolins.2 Existem dois tipos de competição, individual e coletiva (5 ginastas), que são avaliadas por juízes na sua execução e dificuldade de acordo com o Código Internacional de Pontuação.1
Em Portugal, a G.R teve início em meados dos anos 70, com cerca de 1400 ginastas federadas em 2017, tendo o número de atleta triplicado nos últimos 15 anos.1 Isto leva a que haja um maior investimento por parte Federação de Ginástica de Portugal, com o objetivo de proporcionar melhores condições aos atletas, gastando em apoio médico cerca de 13000 euros por ano.3
A G.R é uma modalidade que desenvolve as capacidades motoras da coordenação, postura, autocontrole, flexibilidade, força, destreza, resistência, agilidade, ritmo e equilíbrio.1 Todas estas aptidões começam a ser estimuladas desde muito cedo (a partir dos 4-5 anos), tendo as ginastas que se especializar precocemente, antes da maturação óssea.4,5 Esta especialização requer considerável volume de treino, muitas horas de treino diárias, intensa repetição de elementos complexos e grande variedade de habilidades. 5,6 Todas estas variantes fazem com que a ginástica seja um desporto de risco de lesão moderado em relação a outros desportos. 2