ENTREVISTA
Francisco Miranda
RFD Nº10
Francisco Miranda
Fisioterapeuta
Fisioterapeuta Coordenador
SPORTING CLUBE DE BRAGA
Francisco Miranda, Fisioterapeuta Coordenador do Sporting Clube de Braga, revela como nas duas últimas décadas, contribuiu para mudar o paradigma do clube minhoto no âmbito da Unidade de Saúde e como atualmente os profissionais do sector da Fisioterapia, Reabilitação e os Preparadores Físicos (Sports Science), podem ser mesmo comparados às estrelas do futebol, quando os seus serviços são disputados.
“Eu… eu tenho vergonha de dizer o valor da minha cláusula de rescisão”
FRANCISCO MIRANDA (FM) – É inegável que também há alguma conexão com o facto de ter sido praticante.
Em rigor, foi uma conjugação de fatores que pode ter ditado este meu “destino”. Como praticante, eu vivenciei uma situação delicada, pois sofri um acidente de viação com alguma gravidade. Das várias fraturas, uma delas foi a fratura da rótula… e quando se faz uma lesão dessas e se mexe no joelho, para um atleta, as coisas complicam.
Após uns largos meses (…4 anos) e quando estava a equacionar o retorno à prática desportiva e ao futebol, mas claro como amador… de repente, vi-me na área da reabilitação.
Convém lembrar que, naquela altura, a formação para a reabilitação desportiva ainda era vista com algumas reservas. Nos clubes de futebol, fundamentalmente quem lá cabia, eram os massagistas e os enfermeiros. Eram eles que estavam nos departamentos médicos dos clubes de futebol. Os Fisioterapeutas, esses, estavam mais ligados à área hospitalar… aqui devo lembrar, que nos anos 80 também, são os primórdios da Fisioterapia, como profissão e como carreira.
RFD – Do ponto de vista curricular, quase que tem o pleno dos principais clubes minhotos, do Gil Vicente ao Sporting de Braga, passando pelo Vitória…
FM – Sou natural de Esposende e enquanto praticante de futebol, joguei no Marinhas e depois no próprio Esposende, o Gil Vicente surgiu mais tarde…
RFD – … E qual era a posição que ocupava no campo?
FM – Eu jogava a 8, a 6… Quando a “coisa” corria mal, fechava um pouco pela direita… nas equipas onde fui jogando, tínhamos mais tendência para perder do que para ganhar, logo, muitas vezes, acabava junto dos centrais (risos).
RFD – Chegou a jogar no Gil Vicente antes de assinar como Fisioterapeuta?
FM – Cheguei, eu desisti de dar seguimento como praticante de futebol, por causa do tal acidente. Foi uma colisão de duas motos, típico das zonas balneares: sem capacetes e sem roupas de proteção… Não foi respeitado um sinal de Stop num cruzamento e das várias lesões, eu acabei por sofrer uma com alguma gravidade. Naquele tempo, do ponto de vista emocional, fiquei bastante marcado, achei que tinha de repensar parte do que andava a fazer.
Tornei-me reticente no que respeita a uma série de coisas e com muito medo de falhar no desporto, por isso interrompi… e olhe que praticava desporto compulsivamente.
Mas não voltei a jogar, o que não impediu o treinador que me acompanhava nos juniores do Gil Vicente, me dizer, em jeito de brincadeira, quando eu sou desafiado a entrar como Fisioterapeuta, na equipa principal do Gil:
“Francisco, eu vi logo que tu ias acabar na equipa principal!”(risos)
RFD – Premonitório…
FM – Esse convite para Fisioterapeuta, na equipa principal do Gil Vicente, acontece quando colapsa a estrutura do departamento médico do Gil, apesar de ser pouco numerosa.
Eram dois profissionais, um massagista em full-time e um enfermeiro em tempo parcial, esse enfermeiro, só participava nos treinos da tarde e em Jogos em Barcelos.
O diretor clínico, era o Dr. José Albino, um ex-futebolista, um nome muito marcante para mim. Sendo ambos naturais de Esposende, nunca nos tínhamos cumprimentado até ao momento em que fui contratado. Ele um homem muito engraçado. Conhecia-me perfeitamente porque na altura, à 30 anos a trás, viajava- se muito de boleia ou de comboio, entre Porto, Póvoa de Varzim e Esposende e independentemente de a minha dose de loucura (porque também a tinha), me levar a fazer parte desse caminho a pé, sucedia que me cruzava frequentemente com ele.
Resultado e em resumo, no Gil Vicente, a uma semana de fazer a abertura do campeonato, a equipa ia jogar pela primeira vez na I Divisão, ficou sem elementos no Departamento Médico e o Dr. José Albino, ao saber ao saber da possibilidade de eu ser candidato ao cargo de Fisioterapeuta, foi imediatamente dizer ao Diretor e ao Presidente do Gil Vicente, que por sua absoluta responsabilidade eu tinha que ser contratado, porque… imagine, é meu amigo!!!
Nunca havia cumprimentado e na primeira vez que me cumprimentou… contratou-me!
O Presidente do Gil Vicente nessa data, imagine-se, já era o Sr. Francisco Dias da Silva, que atualmente e passados 32 anos, está de novo no cargo e com tremendo sucesso.
RFD – Estamos a falar de que ano?
FM – Ingresso no Gil Vicente em 1990.
No primeiro jogo da equipa na I Divisão, em Aveiro, em Jogo contra o Beira-mar, eu já apareço como Fisioterapeuta da equipa, sendo que nem sequer estive na pré- época… fui contratado 4 dias antes desse 1º Jogo.
Eu era um jovem, mas estava relativamente preparado, graças a estágios que eu havia realizado. Um deles numa clínica de reabilitação no Porto, sobre a orientação do Enfermeiro Diamantino Moura, que era o enfermeiro principal da equipa do FC Porto. Um segundo estágio, integrado nas “modalidades amadoras” do FC Porto, no antigo Estádio das Antas.
Sentia-me muito confortável com as questões relacionados com o desporto.
Por outro lado, eu também já havia ingressado na Faculdade de Desporto do Porto (FCDEF-UP) e já convivia com os conceitos das Ciências do Desporto,.
Por esta altura, eu já conhecia, em parte, as necessidades dos jogadores de elite, pois no Porto, nesses estágios profissionais, aí eu trabalhei com futebolistas, como: Branco, José Carlos, Geraldão, Semedo, Rodney, Jaime Magalhães, Jorge Andrade, Valdir; Alfredo; Bobó e muitos outros. Alguns deles até que acabaram por ser futebolistas do Gil Vicente.
Acabei por tratar alguns deles, sem eles saberem quem eu era… quando os encontrei no Gil vicente, olharam para mim e devem ter pensado que eu era o fulano que os havia tratado no Porto… seria?.?.? Não seria?.?.?. …devia ser!!! (risos) Por essas circunstâncias, eu não estava completamente impreparado. Ainda hoje a Fisioterapia e as escolas que se dedicam a formar Fisioterapeutas, encontram algumas dificuldades para preparar os seus profissionais de forma curricular, para as áreas do desporto e especialmente para os desportos de maior exigência, o desporto de rendimento.
RFD – Não deixou de ser um grande desafio…
FM – Muito impactante. Tive de crescer de forma muito rápida. O primeiro treinador foi então o Rodolfo Reis, a seguir chega o António Oliveira e depois é que faço três anos com o malogrado Vítor Oliveira, um HOMEM ímpar.
É o Vítor Oliveira, que me leva para Guimarães, onde estou de 1995 a 2000, encontrando aí, equipas muito competitivas. Nestas equipas do Vitoria SC, há um grande leque de jogadores que são internacionais por vários países… são equipas, onde estão jogadores como, o saudoso Neno, o Vítor Paneira, Capucho, José Carlos, Dane, o Zahovic, N’Dinga, Fredrik Soderstrom, Gilmar, Edinho, enfim, tantos outros… Ainda agora é muito difícil construir equipas com aquele grau de competitividade. Desportivamente essas equipas, chegavam às competições europeias.
Nessa minha estadia em Guimarães, se desportivamente tudo corria sobre rodas, nos gabinetes, em 1999, ai as coisas complicaram-se.
Eu trabalhava com um médico fantástico, que por razões extrafutebol entrou em clivagem com o Dr. Pimenta Machado, na altura, como sabe, o Presidente do clube. Isso causou perturbação no bom funcionamento institucional do Departamento Médico e na sua relação com a Administração. Apercebo-me que era importante criarmos um contexto novo e é já nessa fase que o Dr. Novais me confidencia, que o Jaime Pacheco, por já ter trabalhado comigo, me queria levar para o Boavista, na sequência de um interesse que já durava há 2 anos.
RFD – Porque motivo esse longo interesse não é concretizado?
FM – Porque faço um pré-contrato mas não passou disso. É precisamente em 2000 que chego ao S.C.Braga.
Nessa altura, no SC Braga, encontrei péssimas condições de trabalho para a área da reabilitação, mas uma excelente equipa. O Boavista é campeão nessa temporada, em 2000/01.
No SC Braga, sob a orientação do Manuel Cajuda, temos um acontecimento profundamente dramático, logo no arranque da época (13 agosto 2000), o nosso futebolista Pedro Lavoura, tem um acidente brutal, ele e mais 2 amigos acabam por falecer nesse acidente.
Uma época, que só passados anos se consegue perceber, o quanto foi “estranha”. O S.C.Braga ganha ao Boavista mas perde nos jogos com os “grandes”. Na fase final dessa época, o SCB perde o jogo na Vila das Aves, ai temos uma lesão por entorse da tibiotársica do falecido Féher, as coisas descarrilam e o clube falha as competições europeias no jogo de final de época.
Mas imagine: O Boavista, nesse ano é sagrado Campeão nacional… relativamente a trabalho, eu tinha condições fabulosas no Vitória Guimarães, o Boavista cresce e faz-se Campeão… e no Braga tudo muito precário… Não foi uma etapa fácil para mim.
RFD – Mas o que falhou efetivamente na (não) ida para o Boavista?
FM – Tudo começou com um “dossier interno” que o Boavista tinha por resolver. A pessoa que liderava parte do Departamento Médico do Boavista, era por ideia dos dirigentes, para ser substituída.
Aqui, estamos a falar de alguém como o Enf. Diamantino Moura, uma pessoa que sempre me tinha ajudado. Como é evidente, declarei aos responsáveis do Boavista, a minha recusa em estar envolvido nessas decisões. Recomendei, que uma requalificação das competências e/ou uma homenagem ao profissional e ao homem, Diamantino Moura, seriam sempre uma obrigação.
Ele tinha de ser tratado com o respeito que merecia e nunca poderia ser eu a esvaziar as competências dele, no dia-a-dia.
Não queria, nem aceitava que o Diamantino Moura tivesse a mínima razão, para do ponto de vista emocional, pensar que eu não estava a cumprir com os parâmetros mínimos de lealdade.
RFD – Isso acabou por não ter sequência?
FM – Deve lembrar-se de algumas personagens do Boavista nessa altura?
Um Presidente muito ativo nas várias dimensões dos movimentos associativos e do dirigismo. Na verdade, nessa fase, o Boavista, era um clube que se estranhava, mas depois se entranhava.
Havia reuniões no Hotel Ipanema e algumas figuras de referência, gostavam de se encontrar na cobertura do hotel, respirava-se uma atmosfera de poder. E nós, quando lá se ia a reuniões, como que éramos esmagados por aquela magnitude… Lá, eu encontrava o Dr. Rui Pimenta, o Dr. Joaquim Agostinho, o Dr. José Ramos, o Dr. Pinto Leite… Havia médicos com muito poder institucional no Boavista, alguns até na qualidade de investidores e com capacidade de decisão quase autónoma.
O que eles decidiam estava em consonância com a estrutura do clube. Relativamente à minha contratação, as coisas acabaram por não se concretizar, muito pelas razões aqui expliquei anteriormente.
RFD – Era o Braguinha, como gosta de dizer Manuel Cajuda…
FM – Era o Braguinha… quando se jogava contra o Benfica, estava tudo em tons de vermelho no estádio… mas quando sofríamos um golo, ai é que percebíamos que o vermelho era o da cor do SLB… era deles, não era o nosso vermelho.
Nesse sentido, via-se que o clube ainda não estava envolvido na luta por títulos.
A partir de 2003/04 dá-se o salto para a gestão do Presidente António Salvador, que progressivamente teve a capacidade e visão de ir escolhendo jogadores, cada vez mais competitivos. Com a chegada de António Salvador a Presidente da Administração do S.C.Braga, o paradigma muda. Treinadores cada vez mais competentes e cada vez mais aptos a liderar projetos em continuidade, apesar de António Salvador, ser um presidente conhecido por exigir muito e depressa, aos seus treinadores.
Diria que na fase inicial desse ciclo entra o professor Jesualdo, que faz um trabalho muito sólido, segue-se o C. Carvalhal, mais tarde o Jorge Jesus; Domingos Paciência; Leonardo Jardim; José Peseiro; Sérgio Conceição e Paulo Fonseca. Fazem-se campeonatos muito competitivos, são recrutados jogadores que se tornam referência no clube e do nosso campeonato: Quim; Nunes; Nem, Mossoró; Hugo Viana; Lima; Custódio; Eduardo; Alan, e muitos outros…, mais recentemente; Eder; Rafa; Paulinho; Esgaio e Ricardo Horta… sendo que muitos destes, conseguem ser internacionais A por Portugal, enquanto jogadores do SCB.
Na última década, há uma frequente valorização dos nossos futebolistas, a “formação” impulsionada pelas condições de excelência da nova Academia, começa a produzir os seus melhores resultados e com isso as primeiras vendas regulares de futebolistas para vários mercados: Neto; Jordão; Gil Dias; Trincão; Carmo; Buta… Etc.
Mas voltando ao crescimento desportivo, com o Domingos Paciência, o S.C.Braga disputa em 2010 o campeonato até à última jornada, em 2011 é finalista da Liga Europa em Dublin, ou seja, houve um imenso crescimento e isso também fomentou uma ampla remodelação das infraestruturas, equipamentos e dos profissionais.
RFD – Os recursos humanos também foram aumentando?
FM – Correto.
Nas áreas medicas, tínhamos alguns profissionais a tempo parcial, um ou outro médico a tempo parcial e depois entrámos verdadeiramente numa era de profissionalização.
Em tempos recentes, criou-se um Gabinete de Otimização Desportiva (GOD), no campo da Avaliação e da Prevenção, é todo um universo paralelo e de essência absolutamente complementar, às competências das Equipas Técnicas.
Disto resulta que se consiga criar estratégias, para elaboração de programas individualizados para os nossos atletas, tanto no que respeita à otimização do seu rendimento, como à prevenção de Lesões… por vezes, em função do histórico individual.
No fundo, é a partir deste momento que temos que deixar de falar num Departamento Médico e se começa a falar numa bolsa Multidisciplinar, numa Unidade de Saúde, que pela especificidade do futebol, contempla áreas de grande responsabilidade e importância, como são as da Prevenção e da Performance.
RFD – No que respeita às infraestruturas, pode dar exemplos da remodelação?
FM – Para começar, o próprio estádio 1º de Maio, não oferecia condições para albergar uma equipa de futebol e nem mesmo para a organização de Jogos, com algum nível de exigência.
O S.C.Braga, com equipas de futebol, cada vez mais competitivas, a organização de um Europeu no nosso pais e um Estádio em Braga, construído para esse evento… Tudo isso gera um salto qualitativo nas infraestruturas, muito significativo.
Após 2004, temos melhores condições de treino e de trabalho.
O S.C.Braga, passa a ser clube residente, no Estádio Municipal de Braga. Mesmo que este estádio, não tenha nascido para respeitar as necessidades e filosofia de um clube residente, é inegável que há um salto qualitativo muito significativo.
No Estádio 1º Maio, o acesso à Fisioterapia era por escadas, ai já estava erguida uma barreira arquitetónica brutal, mas era o que existia…
O clube passou a adoptar códigos mais rigorosos e sérios, orgulhava-se de honrar todos os seus compromissos e assim, o Sporting Braga, na minha perspetiva, acaba por ocupar o espaço que antes tinha pertencido ao Vitória de Guimarães e ao Boavista.
Presentemente o salto mais significativo, advém da criação da Academia, dedicada aos escalões de formação do futebol. A Academia oferece condições de excelência, tanto a praticantes como aos técnicos e restantes profissionais.
De uns anos a esta parte, quem passa pelo Sporting de Braga como atleta, como técnico e como profissional, se tiver a felicidade de as coisas correrem bem, alcança um nível superior.
Isto oferece um contexto muito particular e favorável, para se escolherem atletas, treinadores e todos os restantes profissionais, dando a todos a oportunidade de serem competitivos.
RFD – Estamos a falar mesmo de um novo paradigma?
FM – No ano em que chego a Braga, o clube não trabalhava com fisioterapeutas, trabalhava com dois enfermeiros, da minha parte há a perceção que o meu trabalho se destina efetivamente a mudar o paradigma.
Tentar numa primeira etapa “sobreviver” e depois, sim, pensar em métodos organizacionais, ultrapassadas as dificuldades e ir crescendo.
Não havia espaço para treinar nos campos, não havia ginásio, não havia piscinas.
Primeiro foi necessário criar um modelo organizacional. A partir daí, sim, testemunhou-se um crescimento gradual.
Todos os anos acrescentamos um pouco mais, a nossa equipa é muito vasta, mas não há limites estabelecidos. Por isso também estabelecemos um conjunto de protocolos com unidades de ensino, unidades de formação e universidades de modo a flexibilizar o conhecimento e competências dos nossos quadros. Isto permite-nos envolver jovens da Fisioterapia, do Treino e do Rendimento, que nos ajudam a discutir questões da nossa cultura e subcultura de trabalho, sem estarem marcados por um modelo.
RFD – Quantos profissionais coordena no Sporting de Braga?
FM – Nesta altura, na Unidade de Saúde, entre Médicos; Fisioterapeutas e Sport Scienc’s, se incluirmos o Gabinete de Optimização Desportiva e o Departamento Médico… Os “Sports Science”, passe essa designação, são os Preparadores-Físicos, alguns pertencem-nos de raiz, outros vêm com os treinadores… mesmo com estas nuances e dado que nós, no S.C.Braga, promovemos o modelo, em que para TODAS as equipas desde Sub-14; Sub-15; sub-16; Sub-17; Sub-19; Sub-23; Equipa B e Equipa A feminina e Equipa Principal Masculina, em todas elas há a inclusão de Fisioterapeutas e de um “Sports Science”.
Resultado, tentamos ter uma linhagem de competência transversal e métodos de funcionamento também eles transversais.
Tudo isto para dizer que no que respeita a Fisioterapeutas e a “Sports Scienc’s”, estaremos a falar entre 35 a 40 profissionais.
RFD – Um autêntico exército…
FM – E dir-me-á: “Não consegue contá-lo?” Consigo, mas, lá está, há profissionais que quando a época termina podem ser absorvidos ou podem ser agregados a alguma das Equipas Técnicas.
Os treinadores têm margem para dizer: “Este ‘Sports Science’ ou este Fisioterapeuta, agora vai trabalhar comigo.
Nós estamos preparados para isso, tentamos reter os melhores, mas é claro que não podemos reter os melhores todos, não temos capacidade para isso. Alguns de nós, de resto, têm cláusulas rescisórias que eu acho completamente imorais, para ser franco.
RFD – É o caso do Francisco?
FM – Também tenho uma cláusula rescisória. Até tenho vergonha de dizer o número… Não é sensato. Se eu pensasse em sair do S.C.Braga teria de me dirigir não ao presidente, mas sim ao homem e amigo, António Salvador e pedir-lhe, que enquanto amigo, ele me deixar sair do clube, porque essas clausulas de rescisão, pelo seu valor, são impossíveis.
Algumas das cláusulas a que me referi, podem andar na ordem de milhares de euros!
RFD – A sua inclusive?…
FM – (risos)… posso dizer-lhe que tenho um contrato com o Sporting de Braga e posso também dizer-lhe que eu teria de trabalhar muitos anos se fosse obrigado a pagar a minha cláusula rescisória… até parece que falamos de um jogador e bom!!
RFD – Quantos anos de contrato lhe restam?
FM – Tenho mais dois anos de contrato.
RFD – E quando Domingos Paciência foi treinador em Alvalade, foi convidado para ingressar no Sporting…
FM – Já tive variadíssimas abordagens, clubes, seleções e outros projetos, mas nunca fiquei com a sensação de perda por não sair do SC Braga, felizmente!!!
Esse convite do Domingos terá sido uma das propostas mais pública, mas houve outras. Como sabe, há treinadores que vão para projetos muito exigentes e quando avaliam o contexto onde vão estar, constatam que lhe fazem falta profissionais para adequar as suas equipas aos desafios em que estão envolvidos.
Mas eu até percebo o sentido das cláusulas de que falávamos há pouco, porque ao menos o clube não fica de mãos a abanar e sem o profissional, se este estiver na disposição de sair. Nessas circunstâncias, há que conferenciar com a administração e de seguida facilitar o processo de substituição desse profissional… ou então, pedir um tempo de carência para que as partes se entendam.
Já fui abordado para integrar projetos e a quem não se pode dizer NÃO, mas sempre os tenho informado, de que não adianta falarem comigo todos os dias.
Já tive variadíssimas abordagens, clubes, seleções e outros projetos, mas nunca fiquei com a sensação de perda por não sair do SC Braga, felizmente!!!
Esse convite do Domingos terá sido uma das propostas mais pública, mas houve outras. Como sabe, há treinadores que vão para projetos muito exigentes e quando avaliam o contexto onde vão estar, constatam que lhe fazem falta profissionais para adequar as suas equipas aos desafios em que estão envolvidos.
Mas eu até percebo o sentido das cláusulas de que falávamos há pouco, porque ao menos o clube não fica de mãos a abanar e sem o profissional, se este estiver na disposição de sair. Nessas circunstâncias, há que conferenciar com a administração e de seguida facilitar o processo de substituição desse profissional… ou então, pedir um tempo de carência para que as partes se entendam.
Já fui abordado para integrar projetos e a quem não se pode dizer NÃO, mas sempre os tenho informado, de que não adianta falarem comigo todos os dias.
RFD – Sente-se o pilar dessa equipa?
FM – Não, não sou o pilar, mas um dos pilares.
Há o diretor Clínico do DM, o diretor Científico do GOD, há um universo de pessoas que têm responsabilidades nestas áreas Médicas, da Reabilitação, do Rendimento, da Prevenção.
Estou a falar de homens que denunciam uma lealdade a toda a prova. Somos, diria, três ou quatro profissionais, cuja cumplicidade nos obriga a que jamais deixaremos os nossos pares em apuros. São pessoas que complementam áreas complexas e diversas e que estão a criar uma cultura no Sporting de Braga.
Em termos desportivos sabemos que não conseguimos esbater as diferenças todas perante todas as equipas. No entanto, no que respeita às outras áreas, sabemos sem qualquer vaidade, que em alguns casos estaremos ligeiramente parecidos, noutros ligeiramente atrás e em certos capítulos, estaremos ligeiramente à frente da concorrência.
RFD – O clube ocupa-lhe o tempo todo?
FM – Consagro algum tempo a outras áreas e interesses… para libertar a cabeça.
Procuro ter presente o conceito “formação e aprendizagem ao longo da VIDA”.
Presentemente ainda sou estudante formal (Licenciatura em Psicologia Clinica na UCP), sou docente e formador (sempre com a liberdade de só o fazer quando posso, em instituições como: FM-UP; FADE-UP; CESPU; ESS-UM; AFB; FPF…, etc) e serei sempre formando, especialmente se o tema ou o conteúdo me geram interesse ou curiosidade.
Em várias circunstâncias, já fui coordenador equipas de Fisios em contexto de clínicas. Esse contexto, é um elemento que considero importante, para gerar contextos clínicos diferentes dos que são padrão frequente no desporto e no futebol.
Particularmente, tenho uma vida plena em termos familiares, pois sou pai de uma “miúda”, agora com 25 anos, quase autónoma do ponto de vista profissional, acabou agora Medicina e quer, imagine, Ortopedia, está a preparar-se para fazer o exame à “Especialidade” … deve ser para puder mandar em mim! (risos)… vamos ter boas discussões lá em casa: “Lesão… tratamento: cirúrgico vs conservador” … vai ser esse o futuro lá em casa… com essas discussões (mais risos) …
A minha esposa é que se moldou profissionalmente para prestar o maior apoio, quer a mim quer à minha filha. Trabalha a tempo parcial. Na verdade, o único pilar que eu conheço é a minha esposa. Tem-me suportado estes anos todos, com toda a paciência do mundo, sem nunca cobrar nada.
RFD – E globalmente, como é que olha para a Fisioterapia em Portugal?
FM – Tem evoluído nos últimos tempos, é mais capaz de formar e de formatar os seus alunos e futuros profissionais, para estarem mais preparados, sobretudo na área da investigação.
Creio que nos cursos, se poderia insistir mais na diversidade e na especificidade… mas os tempos são promissores!!!