ARTIGO DE OPINIÃO
Revista Fisioterapia Desportiva uma Oportunidade no caminho para a mudança
RFD Nº02
REVISTA FISIOTERAPIA DESPORTIVA
UMA OPORTUNIDADE NO CAMINHO PARA A MUDANÇA
JOÃO NOURA
Fisioterapeuta
Prática Clínica Privada
PORTO
Ponto de Vista
As mudanças e avanços sociais que temos vindo a fazer nas últimas décadas são quase inacreditáveis; enquanto sociedade global, diminuímos a pobreza generalizada melhorando as condições de vida, aumentámos exponencialmente a esperança média de vida (com trabalho já feito – mas muito mais por fazer – ao tornar esse acréscimo em tempo de vida com qualidade), criámos cuidados de saúde mais eficazes, e mais acessíveis, a mais gente, construímos infraestruturas e formas de transporte mais seguros e confortáveis, tudo ao mesmo tempo em que o tentamos fazer da forma mais equitativa possível, providenciando a fonte de acesso possível a todos estes feitos a pessoas que, em condições normais, nunca teriam essa hipótese. Naturalmente, dizer que as coisas estão melhores não é sinónimo de dizer que já estão boas o suficiente; é só sugerir que o caminho que temos traçado vem, com alguma extensão, resultando. E o objetivo é otimizá-lo.
Todas estas conquistas foram feitas com recurso a importantes construtos sociais, mas devem-se principalmente a estonteantes avanços científicos e tecnológicos. A recente pandemia em que estamos não pode deixar de ser utilizada como exemplo: a criação de uma vacina, uma ferramenta terapêutica absolutamente inconcebível para uma franja da população, para nos inocular de um vírus – uma criatura microscópica – através da nossa capacidade enquanto comunidade científica de identificar a proteína responsável por tornar o vírus infecioso. Acho que não paramos tempo suficiente para pensar nisto. Depois, a capacidade de, sabendo isto, conseguir criar, na dose certa, uma solução que, quando injetada no nosso organismo, produz na grande maioria das vezes exatamente o efeito que seria pretendido. Juntando a tudo isto a discussão, em sociedade, sobre quais as melhores medidas profiláticas: o que resulta, ou não? E o que resulta, mas com que custos? Quais as intervenções comunitárias – ou seja, holísticas – que apresentam a melhor relação entre o que queremos ganhar e não queremos perder?
Correndo o risco de estar, mesmo assim, a sobre-simplificar uma descoberta cujas dimensão e profundidades admito não conseguir explicar, a verdade é que apesar de profissionais de saúde, o nosso interesse não deve cingir-se ao o quê, mas antes ao como de todo este processo.
O Problema na Fisioterapia no Desporto
Continuando no covid-19 como exemplo, ao mesmo tempo que enquanto comunidade científica perseguíamos uma solução (e continuamos a perseguir) a cada momento, muita discórdia se foi gerando. Para ilustrar, primeiro as máscaras eram contraproducentes porque nos levavam a mexer mais na cara e portanto aumentavam o risco de exposição; depois, não interessavam porque o melhor mesmo era ficar em casa, medida que, de forma comparativa com outras, era muito melhor; hoje, e porque simplesmente ficar em casa não é uma solução viável (independentemente de continuar a ser a mais eficaz), as máscaras são uma solução excelente, sub-óptima, mas que enquadrada no mundo real, apresenta o melhor rácio prejuízo-benefício – ou seja, como medida de intervenção, resulta.
Ora, se assumirmos então que o método científico é o melhor método disponível para recolher informação sobre o mundo à nossa volta e, depois de o interpretar, dar-lhe um significado e assim desenhar um modus operandi eficaz para atuarmos nele, será útil então adotarmos alguns dos seus pressupostos na nossa forma de estar: como vimos antes, muito regularmente e neste caminho incessante à procura de informação o mais fidedigna possível, vai haver mudanças de posição e informações novas contrastantes com o modo como víamos o mundo previamente. É fundamental assumir isto se pretendemos continuar a otimizar a nossa atuação enquanto Fisioterapeutas, estando constantemente atualizados sobre o que resulta, ou não, de acordo com a informação mais recente.