ENTREVISTA
Frederico Morais
RFD Nº04
FREDERICO MORAIS
Top 10 World Tour da Liga Mundial de Surf
FREDERICO “KIKAS” MORAIS confessa-se um sortudo por ter nascido numa família “de sonho”, é uma bandeira das causas ambientais e revela o sítio onde o sol nasce e se põe a cada minuto com uma beleza interior e incomparável…
“O mar é a minha casa”
RFD – Que importância teve o seu pai, fisioterapeuta, na concretização dos seus objetivos e nos momentos mais difíceis?
FREDERICO MORAIS – Uma importância que não é possível medir. Sempre me acompanhou desde muito novo e ele próprio, tornando-me o homem e o surfista que sou hoje, acabou por ganhar paixão pelo surf. Tanto ele como a minha mãe dedicaram-se por inteiro a ajudar os filhos e foram essenciais para sermos bem-sucedidos e criarmos bons hábitos. Tive muita sorte de nascer na casa onde nasci, nesta família, uma família cujo mindset é precisamente querer sempre mais, lutar também sempre por mais. Posso dizer com orgulho que é a família de sonho e no que toca aos momentos mais difíceis, às lesões, felizmente, posso dizer que nunca tive muitas lesões graves e aquelas que tive foram tratadas impecavelmente pelo melhor fisioterapeuta de Portugal. Também aí sou um privilegiado. O sonho de qualquer atleta de alta competição seria ter um pai como o meu! Sou mesmo um sortudo!
RFD – Como é que começaria hoje a já famosa carta que escreveu para uma revista de surf aos 7 anos “prometendo” que ainda iriam ouvir falar muito de si?
FM – Começaria por dizer que vale a pena acreditar nos sonhos. Acreditem neles por mais longínquos ou por mais irrealizáveis que pareçam. Com trabalho, com dedicação, com espírito de sacrifício, podemos realizar todos os nossos objetivos. E mesmo que alguns fiquem pelo caminho, só o simples facto de fazermos tudo, de nos consagrarmos totalmente, só isso já é recompensador. O fundamental é o sentimento de missão cumprida. Se o experimentarmos será sempre uma aprendizagem grande para qualquer outra fase, para a concretização de qualquer outro objetivo.
RFD – O que significa o mar para si?
FM – O mar é a minha casa. É onde aprendi a surfar, onde construí carreira e é o que me permite ter a vida que tenho. É onde estou à vontade, onde sou feliz e encontro paz. Por isso faço questão de partilhar esta felicidade promovendo o respeito pela Natureza, para que todos possamos contribuir para a preservação da biodiversidade e de ecossistemas saudáveis. Todos nós, com pequenos gestos, podemos mudar maus hábitos e no fundo dar o exemplo. Estou completamente por dentro desta causa e como surfista também acho que é um papel que posso e devo desempenhar. Tenho isso interiorizado, gosto de passar a mensagem aos mais novos e aos mais velhos, para juntos fazermos a mudança e criarmos cada vez mais áreas protegidas e já agora também cuidarmos do mar como ele merece ser cuidado. Não podemos ser insensíveis a tudo isto.
RFD – Sem ser Portugal, onde gostaria de viver?
FM – Acho que na Austrália… Tem um lifestyle que me fascina e conheço o país desde os meus 11 anos, tenho lá muitos amigos. Ainda por cima demonstra uma cultura do desporto inacreditável. Mas continuo a pensar que o melhor cantinho do mundo ainda é Portugal e não há pôr-do-sol como o da minha praia, no Guincho. Mas já tive a sorte de ver outros lindíssimos. O pôr-do-sol no Taiti, no México…
RFD – E quais são as expectativas no que toca a medalhas no País do Sol Nascente?
FM – São boas. Estaria a mentir se dissesse que não vou entrar para ganhar. Só que para vencer temos de ultrapassar muitos obstáculos e prefiro pensar etapa a etapa. Claro que o meu sonho, o meu grande objetivo é conquistar algo para Portugal, até porque é a primeira vez que o surf é modalidade olímpica e eu tenho o privilégio e o orgulho de ser o primeiro homem a representar o País. Uma coisa é certa, dentro de água vou deixar tudo!