EXPERIÊNCIA PROFISSIONAL
BOCCIA
Ft. Cristina Marques
Ft. Cristina Marques
Fisioterapeuta da Seleção Nacional de Boccia
Fisioterapeuta no ISS, IP
Prof Convidada Licenciatura Osteopatia Univ. Atlântica Comissão Instaladora da Federação de Boccia de Portugal
Osteopata e Fisioterapeuta em Clinica Privada
MODALIDADES DESPORTIVAS ADAPTADAS ÀS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA
INTRODUÇÃO
O desporto é uma das áreas diferenciadas no que diz respeito ao grau de exigência com que se depara o fisioterapeuta. É também uma área em que o trabalho de equipa é fundamental e a articulação entre a equipa médica, a equipa técnica e os atletas é fulcral para a saúde, rendimento e resultados. Este trio constitui também um investimento e poupança de recursos para o clube e para o país no caso das Seleções Nacionais.
Ao fisioterapeuta desportivo não basta ter conhecimento efetivo sobre a reabilitação, tratamento, avaliação funcional e prevenção. É exigido, também, conhecimento de treino na modalidade e/ou no desporto de elite. Na abordagem do desporto para pessoas com deficiência é necessário acrescentar a vertente adaptada da modalidade e a deficiência / patologias elegíveis para a prática dessa mesma modalidade. Todos os dias surgem com novos desafios!
AS FEDERAÇÕES E INSTITUIÇÕES DESPORTIVAS
As Federações desportivas tutelam as modalidades desportivas praticadas por pessoas sem deficiência ou com deficiência, seja ela motora, auditiva, visual ou intelectual.
O conhecimento sobre a dinâmica de uma modalidade no país ou a indicação de clubes ou associações onde ela é praticada devem ser procurados na respetiva federação.
A primeira federação a desenvolver as modalidades adaptadas à deficiência foi a Federação de Desporto para Pessoas com Deficiência (FPDD), a qual deu continuidade ao trabalho que se vinha desenvolvendo por associações que haviam iniciado o desenvolvimento do desporto para as pessoas com deficiência nos anos 80 do século passado.
A FPDD tem como missão “Proporcionar a todos oportunidades de prática desportiva e atividade física ao longo da vida, independentemente da sua capacidade funcional e de
acordo com o nível de envolvimento desejado por cada pessoa na comunidade” e trabalha em colaboração com os seus associados, os quais têm a responsabilidade de desenvolver o desporto em cada uma das áreas de deficiência e com as federações de modalidade.
O fisioterapeuta deve também conhecer o funcionamento da gestão desportiva no país e as instituições que o gerem:
• Secretaria de Estado da Juventude e do Desporto (SEJD)
• Instituto Português do Desporto e da Juventude (IPDJ)
• Confederação de Desporto de Portugal (CDP)
• Comité Paralímpico de Portugal (CPP)
• Comité Olímpico de Portugal (COP)
• Federação Portuguesa de Desporto para Pessoas com Deficiência (FPDD)
A INTERVENÇÃO
A atuação do fisioterapeuta tem início com a indicação da prática desportiva às pessoas com deficiência, ainda durante o processo de reabilitação. Assim, mesmo que o fisioterapeuta não trabalhe diretamente no desporto, ele tem um papel importante na equipa de reabilitação e posterior encaminhamento para a prática desportiva, quer sejam crianças, jovens, adultos ou pessoas idosas.
No desporto, o fisioterapeuta atua:
• na avaliação, na prevenção e no tratamento de lesões
musculoesqueléticas decorrentes da prática desportiva;
• na preparação física em conjunto com o treinador e o atleta;
• na adaptação de produtos de apoio inerentes e necessários ao
atleta na prática de determinada modalidade;
• como elemento da equipa de classificação funcional
desportiva;
• como elemento dos órgãos sociais das federações ou
associações desportivas.
Para melhor levar a cabo a sua função, o fisioterapeuta precisa
de conhecer as quatro áreas de deficiência (motora, auditiva, visual e intelectual), assim como as modalidades que têm regras adaptadas a cada uma destas áreas.
O fisioterapeuta é um elemento catalisador de ações. Se num clube ou associação existe uma modalidade desportiva onde só treinam pessoas sem deficiência, a pessoa com deficiência pode ser inserida no treino desde que o treinador saiba aplicar as adaptações necessárias para a integração plena e segura. O fisioterapeuta pode auxiliar, incentivar a prática e participar na implementação dessa modalidade.
O FISIOTERAPEUTA CLASSIFICADOR
A prática desportiva por pessoas com deficiência pressupõe a classificação dos atletas tendo em conta a modalidade e a área e dimensão de deficiência. A classificação dos atletas é obrigatória para a participação nas competições nacionais e internacionais. Ela garante concorrência justa e igual, ainda que a vitória seja determinada pela habilidade, aptidão, força, resistência, capacidade tática e foco mental, ou seja, os mesmos fatores que explicam o sucesso no desporto para atletas sem deficiência. No que diz respeito à deficiência motora, após formação específica em classificação, o fisioterapeuta constitui elemento da equipa de classificação para a modalidade e da qual também fazem parte um treinador da modalidade e um médico. Os classificadores devem por agir sem preconceitos para garantir que todos os atletas sejam alocados à classe desportiva relevante.
Exemplo de um percurso de formação para classificador da modalidade de Boccia:
• Curso básico de classificação
• Classificação nacional durante dois anos • Curso de classificador internacional
• Classificação internacional.
Percurso do atleta na classificação:
• Nacional – todos os atletas elegíveis para participar no Boccia devem ter uma classificação inicial pela sua Federação (FPDD-PCAND) de acordo com as orientações / linhas de orientação, formulários de classificação e perfis desportivos determinados pela BISFed (Federação Internacional de Boccia);
• Internacional – processo de classificação que decorre, obrigatoriamente, antes e durante uma competição internacional sancionada pela BISFed.
O MEU PERCURSO PROFISSIONAL NO DESPORTO
Teve início na década de 90 no Centro de Reabilitação de Paralisia Cerebral Calouste Gulbenkian, em Lisboa, acompanhando a equipa de Boccia da Associação de Paralisia Cerebral de Lisboa. Mais tarde, em 2003, fui convidada a acompanhar a Seleção Nacional de Boccia, que continuo a acompanhar com grande dedicação.
Ao longo dos anos a minha atuação tem sofrido grandes alterações de acordo com:
• o desenvolvimento desportivo, que tem sido enorme nos últimos anos;
• a diversidade de patologias e deficiências que os atletas apresentam;
• a diversidade de produtos de apoio que melhoram o desempenho do atleta, bem como as adaptações do material de jogo;
• a evolução das técnicas de intervenção;
• as capacidades individuais e com as atividades da vida diária e vida profissional na manutenção da capacidade funcional de cada atleta;
• o treino desportivo, em estreito trabalho de equipa com o
selecionador nacional, treinadores presentes na seleção nacional e treinadores dos clubes;
• a intensificação de estágios e campeonatos internacionais; • as exigências de desempenho e tempos de recuperação para
cada atleta;
• e a emergência em campo.
Tenho participado ativamente no desenvolvimento da modalidade. Como classificadora, e por acompanhar a seleção nacional integrada na equipa técnica, só posso desempenhar o papel de classificadora nacional. Como membro da direção da PCAND (2009 – 2012) e Vice-Presidente da FPDD entre 2012 e 2019) participei de algumas decisões que contribuíram para o desenvolvimento do desporto praticado pelas pessoas com deficiência, especialmente as pessoas com paralisia cerebral. Atualmente, faço parte da comissão instaladora da Federação de Boccia de Portugal (FBP), uma das mais recentes federações do nosso país.
Concluo com a esperança de ter feito uma síntese sobre as diferentes formas de intervenção do fisioterapeuta no percurso da prática desportiva das pessoas com deficiência, desde a iniciação à alta competição e ainda com a convicção de conseguir despertar o interesse de alguns colegas fisioterapeutas a envolverem-se nesta tão gratificante atividade e missão.
A autora declara ausência de conflitos, assim como, a originalidade do manuscrito e a sua não publicação prévia.
Correspondência
Ft. Cristina Marques – cmarques.osteo@gmail.com
BOCCIA
O Boccia, durante muitos anos, foi praticado como uma atividade de lazer, mas em 1984 foi apresentado nos Jogos Paralímpicos de Nova York. A modalidade não tem congénere Olímpica e é administrada pela Federação Internacional de Boccia (BISFed).
É um jogo de estratégia e precisão, originalmente concebido para pessoas com paralisia cerebral, mas atualmente inclui atletas com deficiências que afetam as capacidades motoras. É praticado num campo de 12,5 x 6m com superfície plana e lisa, de forma individual, por par ou equipa, e os jogadores devem lançar bolas azuis e vermelhas o mais próximo possível de uma bola alvo branca (BA) – Jack. No início da partida, o árbitro sorteia a escolha da cor das bolas e quem fica com as bolas vermelhas inicia o jogo. Joga primeiro a BA e uma bola vermelha e depois jogam as bolas azuis. A partir daqui, joga sempre quem tiver as suas bolas mais afastadas da BA. As bolas podem ser lançadas com o braço/ mão, pontapeadas ou através um dispositivo auxiliar/calha. Os pontos são atribuídos de acordo com o número de bolas da mesma cor mais próximas da BA em relação às bolas do adversário em cada parcial. Vence o jogo quem acumular a maior pontuação. As partidas individuais e de pares têm quatro parciais e as de equipa seis. Cada atleta, par ou equipa, lança seis bolas por parcial.
Para fins competitivos, os atletas são classificados de acordo com sua incapacidade motora e são incluídos numa de quatro classes: BC1, BC2, BC3, BC4.
O Boccia também é amplamente jogado de forma educacional e recreativa em diversas instituições. Em Portugal, o Boccia praticado por pessoas com mais de 65 anos (Boccia Sénior) tem um quadro competitivo importante.